Scavengers
60 min | Drama | Adulto
SINOPSE
Michael Findlater é um homem em colapso e falido, uma metáfora para a crise institucional de um país. Arruinado, ele decide dar uma pausa em sua vida para se reinventar e transforma-se em um andarilho. O protagonista tentar compreender como as suas desventuras estão relacionadas aos mecanismos perversos das instituições sociais. O nome da peça é uma referência aos animais detritívoros, sapófagos ou necrófagos, que se alimentam de restos orgânicos, devolvendo-os reciclados para a cadeia alimentar de modo que outros organismos vivos possam se beneficiar dessas substâncias.
FICHA TÉCNICA
Texto: Davey Anderson
Tradução: Caio Badner
Direção: Francisco Medeiros
Elenco: Ricardo Corrêa e Davi Reis
Atores convidados: Fani Feldman, Gabriela Rabelo e Rogério Brito.
Compositor musical e execução ao vivo: Tiago de Mello
Preparação corporal: Vitor Bassi
Cenário: Cesar Rezende Santana
Iluminação: Fran Barros
Figurino: Cy Teixeira
Comunicação visual: Alice Jardim
Produção: Ricardo Corrêa
Assistência de Produção: Rafael Salmona
Assessoria de imprensa: Pombo Correio.
CRÍTICA
SCAVENGERS – o coro invisível de sobreviventes
por Aguinaldo Gabarrão
O termo scavengers, designa seres que se alimentam de restos orgânicos, devolvendo-os na cadeia alimentar para servirem de alimento a outros seres vivos.
Para a dramaturgia do escocês Davey Anderson, é a metáfora daqueles que estão à margem da sociedade, mas que existem e podem ressignificar suas vidas e daqueles que estão à sua volta.
“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.”
Essa frase atribuída ao escritor russo Leon Tolstói se aplica ao texto de Anderson. Ele fala da sua realidade num país distante culturalmente do nosso, mas toca o público pelos dilemas comuns como a solidão, a perda de identidade, o estar à margem do sistema.
A trama não tem rodeios: o profissional Michael Findlater, arruinado e pressionado por problemas financeiros e emocionais, decide forjar sua morte e torna-se um andarilho na busca por outro modo de vida.
Tradição x Inovação
Além da história comum a muitas outras, a dramaturgia utiliza a linguagem narrativa, recurso bem conhecido no teatro, em que a personagem apresenta ou explica a ação. Porém, nas mãos do dramaturgo, o recurso renova-se ao determinar aos atores-narradores as funções de recontar, reescrever ou mesmo intervir criticamente e com bom humor enquanto a ação acontece.
Essa perspectiva sedutora é o que habita os sonhos de muitos de nós: poder voltar atrás e, individual ou coletivamente, reciclar nossas ações, portanto, sermos scavengers (limpadores, catadores) dos nossos desejos e desilusões e transformá-los em algo mais palatável.
A encenação segura
O diretor Francisco Medeiros soube alinhavar com precisão os diversos recursos da montagem para distanciá-la do necessário realismo de algumas cenas. Exemplo disso é o uso dos microfones: a voz amplificada dos atores ressalta o faz-de-conta e a trilha sonora marca frases e pontos de virada das personagens.
Outro elemento importante é a cenografia: espécie de plataforma articulada pelos atores-narradores que permitem outros ângulos de interação e perspectiva da história. Os figurinos e o desenho de iluminação molduram o jogo narrativo e dramático da direção.
“… Scavengers: pessoas em busca de sustento e espaço” – Cia Artera
A pouca profundidade psicológica das personagens, construídas de forma esquemática pelo dramaturgo Davey Anderson é compensada pelo elenco que, para felicidade deste espetáculo, atinge momentos de grande beleza no conjunto.
A encenação da peça, inédita no Brasil, coube a Cia Artera de Teatro, que comemora 15 anos de estrada. Confira, porque a temporada está terminando.